A pílula do dia seguinte causa cancro do ovário?
No post, lê-se: “e tu pode acabar desenvolvendo cancro do ovário mesmo tomando apenas uma por ano porque isso é basicamente uma bomba de hormônios.”
O que está em causa?
Um tweet que data de 3 de novembro de 2019, refere que tomar a pílula do dia seguinte, mesmo que esporádicamente, pode levar a que a pessoa acabe por desenvolver cancro do ovário. Seguindo os parâmetros de análise propostos pelo First Draft News (2017), realizaremos a desmitificação (debunking) deste conteúdo e junto de especialistas e estudos faremos uma checagem da informação (fack-checking). Saiba mais sobre a nossa metodologia.
Esta publicação vem no seguimento de uma outra feita no mesmo dia e pelo mesmo utilizador na qual alerta que “A DIAD é pílula do dia seguinte e só deveria ser tomada em casos de emergência e também apenas uma vez (no máximo DUAS) no ano (...)”.
A partir desta publicação surgiu a questão: Será que a pílula do dia seguinte, por ser uma “bomba de hormónios”, aumenta a probabilidade de uma mulher desenvolver cancro do ovário?
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O que sabemos sobre a pílula do dia seguinte?
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Segundo a o folheto informativo da pílula DIAD, a pílula é um contraceptivo destinado à prevenção concebida para ser usada ocasionalmente, após relações sexuais desprotegidas ou falha de outro método contracetivo.
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Composição: A pílula do dia seguinte é uma forma de contracepção de emergência que contém uma dose elevada de hormonas, geralmente levonorgestrel ou acetato de ulipristal.
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Quando usar: Deve ser utilizada em casos onde nenhum método contraceptivo foi utilizado ou quando existe uma falha/ ruptura na sua utilização; quando ocorre uma falha na interrupção do coito; em casos de abuso sexual.
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Efeitos a curto prazo: Os seus efeitos secundários mais comuns incluem náuseas, dor de cabeça, irregularidades menstruais , fadiga e sensibilidade nos seios, mas não há associação direta com condições graves.
Pílula do dia seguinte e cancro do ovário: mito ou verdade?
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A questão levantada sobre a relação entre o uso da pílula do dia seguinte e o risco de desenvolver cancro do ovário reflete um debate comum quando se trata de contraceptivos hormonais e da sua segurança. No entanto, a Doutora de oncologia Filipa Ferreira da Silva, da Fundação Champalimaud, não corrobora com a afirmação feita pelo autor do Tweet apresentado. Esta esclareceu que:
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“Não existem dados que demonstrem que a pílula do dia seguinte
leve ao aumento do cancro do ovário.”
Assim, é possível perceber que de acordo com a especialista, até à data, não existem evidências que confirmem ou refutem esta afirmação. A Doutora Filipa Ferreira da Silva acrescenta ainda que:
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“(...) a pílula não aumenta o risco de cancro do ovário.
Parece até proteger do risco de o vir a desenvolver.”
Afinal, a pílula do dia seguinte aumenta o risco de cancro do ovário?
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Não. O tweet contém uma afirmação infundada, baseada em especulação e desinformação. Embora a pílula do dia seguinte deva ser usada com moderação, sobretudo para evitar impactos no ciclo menstrual, não existem evidências que associem o seu uso ao cancro do ovário.
Apesar deste tweet não ter tido grande repercussão em termos de partilhas, gostos e comentários, é importante salientar que a desinformação pode ter um impacto, mesmo que em pequena escala. A mensagem chegou a algumas pessoas e, ao fazer isso, existe o risco de essa informação ser transmitida ou discutida com outros.
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No entanto, está confirmado que a utilização de qualquer pílula hormonal (não necessariamente a do dia seguinte) pode aumentar cerca de 20% da probabilidade de desenvolvimento do cancro da mama numa mulher, segundo indica um estudo realizado pela The New England Journal of Medicine.